quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Walter Salles: "O Cinema Brasileiro Perdeu o Foco"

Bom eu transcrevi um depoimento muito interessante que achei somente o áudio na internet. Um depoimento crítico de Walter Salles falando sobre os cinemas da Argentina e do Brasil em 2008.

Walter Salles: "O Cinema Brasileiro Perdeu o Foco"


"O cinema argentino manteve um foco que nos perdemos!

É um cinema que tem uma latitude que é relativamente grande, que vai do olhar realista do cineasta como Pablo trapeiro, como mais impressionista a Lucrecia martello. Tem também o Lisandro Alonso que faz um cinema mais "desdramatrizado", um cinema que captura um momento, um roteiro dele nunca tem + de 20 paginas quando tem 20 paginas... Um caso de Liverpool uma "fixonalizaçao" de uma narrativa "fixonalizada".

Mesmo trabalhando de formas diferentes eles são muito próximos, Unem-se pelo movimento! Mesmo sendo roteiros muito trabalhados. Existe uma unidade ali que não é quebrada, digamos pelo um cinema comercial predominante. Existe um trabalho de base pela escola e pelas faculdades mais de 14 mil estudantes de cinema na Argentina hoje em dia.

Nós tínhamos uma unidade, nós no Brasil tínhamos uma unidade bem no inicio da retomada. Tínhamos um foco que foi se perdendo pouco a pouco. Este foco vinha do fato pelo choque gerado pelo Collor, foi de tal tamanho que afetou de tal forma nosso entendimento de nós mesmo em quanto nação.
O cinema que reage aquilo é o cinema que fala basicamente de um tema, que fala da busca da identidade brasileira, como quem somos, onde estamos indo, (o que e sobre isso). Um exemplo e o primeiro filme da Carla Carmurati. Também entram os filmes pernambucanos como o baile perfumado. Entram os filmes mais colados da materialidade mais urgente. Por exemplo, o "terra estrangeira", que nos corresponde quem somos nós, e até comedias eram ligadas com aquilo que acontecia no país...
E foi isto que se perdeu, à medida que fomos caminhando a distancia foi aumentando como quem somos nós acabou. Este cinema substanciou em um cinema mais comercial.

Esta distancia se tornou pouco a pouco abissal. Um número muito grande de projetos que não se respondem mais aquelas perguntas que tem aquela ligação com questões mais urgentes do país. A presença na televisão no cinema era muito menor, o universo cinema era muito menor. Tendo dito isto da pra se ver que tem uma vitalidade no cinema brasileiro que tem que se aplaudir. Com muitos filmes com um grande perfil que faz umas perguntas que tem que ter.

Uma vitalidade que gente que vem que acredita num cinema que vem que tenta gerar memória, o cinema que importa e o cinema que deixa um testemunho do nosso tema."


Bom acho que Walter Salles numa visão extremamente crítica sobre o nosso cinema e o dos nossos vizinhos argentinos citou toda idéia de um cinema mais raiz, sem pensar apenas no comercial. Mas é uma pena constatar os rumos que o cinema brasileiro vem tomando com a grande quantidade de produções comerciais e chinfrins que chegam às salas de exibição. MAs também é de pensar se nao vão generalizar isto pois numa visão ampla pode achar que só deve fazer filmes de tristeza da terra. Ou deve se pensar em fazer cinema, puro e simples, produzir o melhor filme que puder e nada mais?
não existe necessidade de um cinema pra gringo ver, com padrões regionais e essas coisas obviamente não sou contra a presença desses aspectos proprios no cinema ou em qualquer outra arte, só não acho que tenhamos que coloca-los obrigatoriamente nem que devemos fazer nada só em função deles.


Guilherme Horta

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